Criado à imagem e semelhança de Deus, o homem está naturalmente inclinado ao verdadeiro, ao bem, a Deus, ao sexo contrário e à conservação da vida. A acídia é, em si mesma, tristeza pelo bem. Uma tristeza que pressiona e deprime tanto o ânimo de quem a sofre, que já nada do que faça lhe agrada. Nada! Situação insustentável para nossa alma, que está chamada ao gozo da caridade e à participação na vida divina. Situação insuportável para nosso ser, que também está chamado ao gozo pela própria natureza racional, ao gozo pelos bens admiráveis com que adorna cada uma das almas. Quem é ingrato ante os bens recebidos de Deus e os despreza, cai na acídia. A dinâmica deste processo é clara: em primeiro lugar, não reconhece o bem recebido; depois, zomba dizendo que o bem recebido não é realmente um bem, e, por último, querer demonstrar que esse bem, no fundo, é um mal. Nada mais contrário à advertência do apóstolo: “O que tens que não tenhas recebido?”.
Como dissemos, a tristeza da acídia não tem a ver com aquela tristeza ordenada e lícita causada por um mal externo, por um mal moral, por uma corrupção, pela violência, pelas guerras, pelas injustiças. Trata-se de uma tristeza por um bem, pelo bem interior da graça divina em cada um de nós. Pela acídia o homem não goza do bem, senão que o rejeita, se entristece e foge de Deus, do bem das coisas de Deus, do bem das coisas queridas por Deus, do bem do próprio ser pessoal, que é sua vida interior. O ser humano perde seu gosto por viver e seu dinamismo interior fica paralisado. É o que na psicologia se descreve com o termo de vazio ou frustração existencial, a antessala da queda na desesperação. A raiz desta tristeza – assinalava Joseph Ratzinger – é a falta de uma grande esperança e a impossibilidade de alcançar o grande amor.
Mas como é possível que alguém chegue a entristecer-se frente a Deus? Como é possível não se alegrar e gozar pelos bens recebidos e aos quais somos chamados: o matrimônio, a família, a amizade, a verdade, a honra, a beleza, a entrega? A resposta também é muito clara: porque para conseguir estes bens, para mantê-los e poder gozar neles, é necessário renunciar a outros carnais, passageiros, limitados, mas muito atrativos, principalmente em nossos dias, onde as pessoas e as sociedades se afastaram de Deus e dos bons costumes. A alegria pelas coisas de Deus exige a renúncia de bens que são atrativos, mas nos quais o ser humano jamais encontrará o gozo verdadeiro.
A fuga própria da acídia é uma fuga de si mesmo e uma fuga de Deus. É a fuga vertiginosa, fenômeno contemporâneo, que toma a forma de uma necessidade constante por mudança. É o frenesi agitado pela novidade, o horror pelo permanente, pelo que é próprio da natureza humana. Por causa desta fuga frenética, cai-se na dúvida, a dúvida sobre tudo, sobre o sentido da vida, sobre as verdades da fé, e, principalmente, sobre a fidelidade e esperança, optando-se por uma mediocridade relativista que busca compensações e distrações que apaguem, numa tentativa de silenciá-lo, o grito da alma em busca de seu bem, em busca de Deus.
O homem que acídia foge do fim de sua vida espiritual e se desespera; além disso, impugna e se rebela contra aquelas coisas que lhe trazem tristeza. Por isso hoje existe um estranho ódio do homem contra sua própria grandeza, contra sua dignidade, e se põe em questão aquela verdade que recorda ao homem sua origem e vocação: “O homem, única criatura terrestre à qual Deus amou por si mesmo, não pode encontrar sua própria plenitude senão na entrega sincera de si mesmo aos demais” (Gaudium et spes, 24).
Precisamos aprender a orar com simplicidade e confiança na misericórdia do coração de Deus, porque, se não orarmos, nunca teremos vida interior. Não há outro caminho nem remédio contra a tristeza da acídia senão perseverar na oração humilde e simples, para que Deus nos mantenha em sua graça e nos conceda o gozo de seu amor.
Fonte: Buena Nueva