Percebemos, ao ler a obra de Daniel-Rops, que a reforma restauradora é um princÃpio fundamental da Igreja. Durante toda a sua história, ela resistiu à s circunstâncias desfavoráveis de cada época, e fez florescer, em cada uma delas, de modo radiante, novas espiritualidades pautadas nos mesmos e imutáveis princÃpios. Manteve-se de pé enquanto o mundo inteiro soçobrava, e renasceu para uma nova primavera enquanto o mundo inteiro parecia se decompor em um infindo inverno. Constatamos, a partir disso, que a semente evangélica é sempre nova, e que dará para sempre novos frutos, porque o EspÃrito Santo, o grande semeador, assiste e assistirá Sua Igreja pelos séculos vindouros, até o fim do mundo.
Por essa razão, não devemos nos desesperar, mas sim confiar mais uma vez no poder de restauração da Igreja: a reforma não tardará a vir, desabrochando novas santidades e espiritualidades com base nos eternos princÃpios. Mas o que deve ser reformado? Acima de tudo, precisamos de uma restauração litúrgica, e então, como consequência, virá, como avalanche, uma grande reforma sacerdotal.
Pois vemos que o grande problema de hoje é que o mundo, que sempre foi mundo, não tem mais quem o guie. Os sacerdotes, portadores da semente e que devem semeá-la, não mais tentam mudar o mundo; antes, submetem-se a ele, e aderem às modas de pensamento e às ideias do último autor badalado, moldando-se ao mundo ao invés de moldá-lo.
Todo o problema de hoje resume-se a isso: nosso clero não é mais um clero combatente e reformista, tendo-se tornado adepto ao mundo e se conformado com as suas ideias. A obra evangélica exige coragem, exige força, exige renúncia. Para o clero voltar a ser forte, a cruz tem que estar novamente no centro de sua vida.
Mas vemos que a cruz não está mais no centro da vida sacerdotal porque não está mais no centro da liturgia. Os sacerdotes, por não mais se inebriarem do mistério do calvário, esquecem suas cruzes, esquecem-se de carregá-las para seguir o Mestre. A liturgia não nos dá mais a noção de sacrifÃcio, a necessidade de perdão, a profunda consciência do pecado; como consequência, os sacerdotes não pregam mais a necessidade de conversão porque eles mesmos não sentem tal necessidade; não admoestam mais o mundo porque eles próprios já não sabem porque o deveriam fazer.
Assim, nos tempos conturbados de hoje, a Igreja esquece-se de pregar o Cristo crucificado, mas o Cristo crucificado, que ressuscitou e assiste a Igreja desde o céu, não se esquece dela. E suscitará, com toda certeza, meios e pessoas para reformá-la. Pois a situação hoje é muito simples: ou a Igreja reforma-se, assumindo novamente o status de mãe e mestra, ou ela sucumbirá; e como sabemos que as portas do inferno jamais prevalecerão contra a Igreja fundada sobre a Pedra Angular, que é o próprio Jesus, podemos aguardar, tranquilos, a aurora que virá depois das trevas e que fará brilhar mais uma vez a santidade da Igreja de Cristo.