Estações da via Sacra
(Cardeal Newman)
Fazer um Ato de Contrição
Primeira Estação:
Jesus é condenado à morte
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
Ao deixar a Casa de Caifás, ao ser arrastado diante de Pilatos e Herodes, ao ser escarnecido, espancado e cuspido, com Suas costas dilaceradas com flagelos, com Sua cabeça coroada de espinhos, Jesus, que no último dia julgará o mundo, é Ele mesmo condenado por juízes injustos a uma morte ignominiosa e torturante.
Jesus é condenado à morte. Sua sentença de morte é assinada, e quem a assinou senão eu, quando cometi meus primeiros pecados mortais? Meus primeiros pecados mortais, quando caí do estado de graça em que Tu me puseste pelo batismo; estes foram Teu mandato de morte, ó Senhor. O Inocente sofreu pelos culpados. Esses meus pecados foram as vozes que clamaram: “Crucifica-o”. Aquela vontade e deleite de coração com que os cometi foi o consentimento que Pilatos deu àquela multidão clamorosa. E a dureza de coração que a acompanhou: o meu desgosto, meu desespero, minha impaciência orgulhosa, minha determinação obstinada de continuar pecando, o amor ao pecado que se apoderou de mim – o que eram esses sentimentos contrários e impetuosos senão os golpes e as blasfêmias com as quais os ferozes soldados e a população Te receberam, cumprindo assim a sentença que Pilatos havia pronunciado?
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Segunda Estação:
Jesus toma a Cruz aos ombros
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
Uma forte, e portanto pesada, Cruz – pois é forte o suficiente para suportá-Lo quando Ele chega ao Calvário – é colocada sobre Seus ombros dilacerados. Ele a recebe gentilmente e com mansidão, ou melhor, com alegria no coração, pois é para ser a salvação da humanidade.
Isto é verdade; mas lembra que aquela Cruz é pesada por causa do peso de nossos pecados. Ao cair sobre Seu pescoço e ombros, ela desceu com impacto. Ai! que peso repentino e pesado coloquei sobre Ti, ó Jesus. E, embora na previdência calma e clara de Tua mente – pois Tu vês todas as coisas – Tu estavas totalmente preparado para isso, mesmo assim Teu corpo debilitado vacilou quando ela caiu sobre Ti. Ah! Tão grande é a miséria, que levantei minha mão contra o meu Deus. Como eu poderia imaginar que Ele me perdoaria! a não ser que Ele mesmo nos tivesse dito que sofreu Sua amarga paixão para que Ele pudesse nos perdoar. Eu reconheço, ó Jesus, na angústia e agonia do meu coração, que foram os meus pecados que Te atingiram a face, que feriram os Teus braços sagrados, que dilaceraram a Tua carne com varas de ferro, que Te pregaram na cruz, e Te deixaram morrer lentamente sobre ela.
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Terceira Estação:
Jesus cai pela primeira vez sob a Cruz
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
Jesus, curvado sob o peso e o comprimento da pesada Cruz que O seguia, avança lentamente em Seu caminho, em meio às zombarias e insultos da multidão. Sua agonia naquele Horto foi suficiente para esgotá-Lo; mas era apenas o primeiro de uma multidão de sofrimentos. Ele ruma com todo Seu coração, mas Seus membros falham, e Ele cai.
Sim, é como eu temia. Jesus, o Senhor forte e poderoso, encontrou por ora nossos pecados mais fortes do que Ele mesmo. Ele cai – mas tinha suportado a carga por um tempo; Ele cambaleava, mas suportava e caminhava adiante. O que, então, fez com Ele cedesse? Eu digo e repito: é uma intimação e uma memória para ti, ó minha alma, de tua nova queda no pecado mortal. Arrependi-me dos pecados de minha juventude, e continuei bem por algum tempo; porém, após certo tempo, veio uma nova tentação quando eu estava desprevenido, e de repente caí. Então todos os meus bons hábitos pareceram desvanecer de uma só vez; como uma roupa que é arrancada, inteiramente e rapidamente a graça se afastou de mim. E naquele momento eu olhei para o meu Senhor, e eis! Ele havia caído, fazendo eu cobrir meu rosto com as mãos e permanecendo num estado de grande confusão.
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Quarta Estação:
Jesus encontra Sua Mãe
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
Jesus levanta, embora ferido pela Sua caída, segue a viagem com Sua Cruz ainda sobre Seus ombros. Ele está curvado; mas em um lugar, ao olhar para cima, Ele vê Sua Mãe. Por um instante, eles apenas se veem, e Ele segue em frente.
Maria preferia ter ela mesma todos os Seus sofrimentos, o que ocorreu, do que não saber o que eram por deixar de estar perto Dele. Ele, também, ganhou um alívio, como se passasse por Ele um sopro de ar reconfortante e agradecido, ao ver seu triste sorriso em meio aos vultos e ruídos que estavam ao Seu redor. Ela O tinha conhecido belo e glorioso, com o frescor da Inocência Divina e a paz em Seu semblante; agora ela O via tão diferente e deformado, que mal poderia reconhecê-Lo, exceto pelo olhar penetrante, emocionante e inspirador de paz que Ele lhe lançou. Mesmo assim, Ele agora carregava o peso dos pecados do mundo, e, por mais santo que Ele fosse, carregava a imagem deles em Seu próprio rosto. Ele parecia um exilado ou fora da lei que carregava uma terrível culpa sobre si. Ele fez-se pecado por nós, Ele que não conheceu nenhum pecado: sequer uma parte ou pedaço, mas que falava de culpa, de maldição, de castigo, de agonia.
Oh, que encontro do Filho com a Mãe! Ali houve um conforto mútuo, pois havia uma simpatia mútua. Jesus e Maria – será que eles esquecerem que a Paixão flui por toda eternidade?
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Quinta Estação:
Simão de Cirene ajuda Jesus a carregar a Cruz
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
A certa altura, Sua força falha completamente, e Ele é incapaz de prosseguir. Os algozes ficam perplexos. O que eles devem fazer? Como Ele chegará ao Calvário? Então eles veem um estranho que parece forte e ativo – Simão de Cirene. Eles o agarram e o obrigam a carregar a Cruz com Jesus. A visão do Sofredor perfura o coração do homem. Oh, que privilégio! Ó alma feliz, eleita de Deus! ela assume com alegria a parte que lhe foi designada.
Isto ocorreu por intercessão de Maria. Ele orou, não por Si mesmo, senão para que Ele pudesse beber o cálice cheio de sofrimento e fazer a vontade de Seu Pai; mas ela se mostrou mãe ao segui-Lo com suas orações, pois ela não podia ajudá-Lo de outra forma. Ela então enviou este estranho para ajudá-Lo. Foi ela quem fez com que os soldados percebessem que estavam sendo muito ferozes com Ele. Doce mãe, faça o mesmo para conosco. Rogai sempre por nós, Santa Mãe de Deus, rogai por nós, seja qual for a nossa cruz, enquanto percorremos o nosso caminho. Orai por nós, e nos levantaremos novamente, mesmo que tenhamos caído. Orai por nós quando a tristeza, a ansiedade ou a doença vierem sobre nós. Orai por nós quando estivermos prostrados sob o poder da tentação, e enviai algum servo fiel seu para nos socorrer. E no mundo vindouro, se formos considerado dignos de expiar nossos pecados na prisão de fogo, enviai algum Anjo bom para nos dar um período de refrigério. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Sexta Estação:
Jesus e Verônica
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
Enquanto Jesus subia o monte, coberto com o suor da morte, uma mulher abre caminho no meio da multidão para enxugar Seu rosto com um véu. Em recompensa de sua piedade, o pano retém a impressão do Semblante Sagrado sobre ele.
O alívio que a ternura de uma Mãe obteve ainda não é tudo o que ela fez. Suas orações enviaram Verônica, assim como haviam enviado Simão – Simão para fazer o trabalho de um homem, Verônica para fazer o papel de uma mulher. A devota serva de Jesus fez o que lhe era possível fazer. Como Madalena que derramou o unguento na Festa, agora Verônica Lhe oferece este véu durante Sua Paixão. “Ah”, disse ela, “eu gostaria de fazer mais! Por que não tenho a força de Simão para tomar parte no fardo da Cruz? Mas só os homens podem servir ao Sacerdote Supremo, e agora que Ele está celebrando o solene ato do sacrifício”. Ó Jesus! deixa-nos que todos possam ser Teus ministros segundo as nossas posições e poderes. E assim como Tu aceitaste refrigério de Teus seguidores na hora de Tua provação, dá-nos também o suporte de Tua graça quando formos duramente pressionados por nosso Inimigo. Sinto que não posso resistir às tentações, ao cansaço, ao desânimo e ao pecado. Digo para mim mesmo: para que ser religioso? Eu irei cair, Ó meu doce Salvador, certamente cairei, a menos que Tu renoves meu vigor para que seja como o da águia, e me dês vivacidade pela suave aplicação e toque dos Santos Sacramentos que Tu designaste.
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Sétima Estação:
Jesus cai pela segunda vez
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
Com a dor de Suas feridas e a perda de sangue aumentando a cada passo de Seu caminho, novamente Seus membros falham, e Ele vai ao chão.
O que Ele fez para merecer tudo isso? Esta é a recompensa recebida pelo tão esperado Messias do Povo Escolhido, os Filhos de Israel. Eu sei o que responder. Ele cai porque eu caí. E porque caí novamente. Eu bem sei que sem a Tua graça, ó Senhor, eu não poderia permanecer de pé; e imaginei que guardava proximamente os Teus Sacramentos; no entanto, apesar de ir à Missa e cumprir meus deveres, estou novamente sem a graça. Por que isto, senão porque perdi meu espírito devocional e cheguei aos Teus santos preceitos de maneira fria, formal, sem afeto interior? Tornei-me morno, tíbio. Achei que a batalha da vida tinha acabado, e tornei-me medíocre. Eu não tinha uma fé viva, nenhuma visão das coisas espirituais. Eu ia para a igreja por hábito, e porque tinha preocupação de os outros notarem minha ausência. Eu deveria ser uma nova criatura, deveria viver pela fé, esperança e caridade; mas pensei mais neste mundo do que no mundo que há de vir – e enfim, esquecendo que eu era um servo de Deus, segui pelo caminho largo que leva à destruição, não pelo caminho estreito que conduz à vida. E assim eu decaí de Ti.
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Oitava Estação:
Jesus consola as Mulheres de Jerusalém
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
À vista dos sofrimentos de Jesus, as Santas Mulheres são tão trespassadas pela dor, que clamaram e choraram por Ele, sem se importarem com o que lhes poderá acontecer ao agir desta forma. Jesus, voltando-se para elas, disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos”.
Ah! É o caso de eu ser, ó Senhor, um daqueles filhos pecadores por quem Tu pediste que suas mães chorassem? “Não choreis sobre Mim”, disse Ele, “porque Eu sou o Cordeiro de Deus, e estou fazendo expiação, por Minha própria vontade, pelos pecados do mundo. Estou sofrendo agora, mas triunfarei; e, quando Eu triunfar, essas almas, pelas quais estou morrendo, ou serão meus amigos mais queridos ou meus inimigos mais mortais”. É possível? Ó meu Senhor, é possível compreender o terrível pensamento de que Tu realmente choraste por mim – que choraste por mim, como choraste por Jerusalém? É possível que eu seja um dos réprobos? É possível que eu perca pela Tua paixão e morte, não que seja vitorioso por ela? Oh, não se afaste de mim. Eu estou em péssimo estado. Eu tenho muita maldade em mim. Tenho muito pouco zelo, muito pouco espírito de coragem para combater esse mal. Ó Senhor, o que será de mim? É muito difícil para mim afastar o Espírito Maligno do meu coração. Só Tu podes efetivamente o expulsar.
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Nona Estação:
Novamente, pela terceira vez, Jesus cai
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
Estava Jesus quase no topo do Calvário; porém, antes de chegar ao exato ponto onde Ele seria crucificado, novamente caiu, e novamente foi levantado e incitado pela brutalidade dos soldados.
Somos informados nas Sagradas Escrituras sobre as três quedas de Satanás, o Espírito Maligno. A primeira foi no início; a segunda, quando o Evangelho e o Reino dos Céus foram pregados ao mundo; a terceiro será no fim de todas as coisas. A primeira nos é contada por São João Evangelista. Ele diz: “Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram. E já não houve lugar no céu para eles. Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro”. A segunda queda, na época do Evangelho, é mencionada por Nosso Senhor quando Ele diz: “Vi Satanás cair do céu como um raio”. E a terceira, pelo mesmo São João: “Desceu fogo do céu de Deus, … e o demônio… foi lançado num lago de fogo e de enxofre”.
Essas três quedas – a passada, a presente e a futura – o Espírito Maligno tinha em mente quando induziu Judas a trair Nosso Senhor. Tratava-se apenas da sua hora. Nosso Senhor, quando foi preso, disse a Seus inimigos: “esta é a vossa hora e do poder das trevas”. Satanás sabia que seu tempo era curto e pensou que poderia usá-lo para bons resultados. Mas mal imaginava que agiria em favor da redenção do mundo, que a paixão e a morte de Nosso Senhor conquistariam. Em vingança e, segundo pensava, com triunfo, ele O feriu uma vez, ele O feriu duas vezes, ele O feriu três vezes, a cada vez, sucessivamente, com um golpe mais pesado. O peso da Cruz, a barbárie dos soldados e da multidão, não eram senão seus instrumentos. Ó Jesus, Filho unigênito de Deus, Verbo Encarnado, nós Te louvamos, Te adoramos e Te amamos por Tua inefável condescendência. Mediante Tua própria permissão, Tu mesmo quisesses cair por um tempo nas mãos e sob o poder dos Inimigos de Deus e do homem, a fim de assim nos salvar de sermos seus servos e companheiros por toda a eternidade.
Ou esta meditação:
Esta é a pior queda das três. Sua força falha completamente por um tempo, e leva algum tempo até que os bárbaros soldados pudessem trazê-Lo de volta. Ah! era Sua antecipação do que estava para acontecer comigo. Eu vou de mal a pior. Ele, que vê o fim desde o princípio, pensava em mim o tempo todo enquanto Se arrastava para subir o Monte Calvário. Ele viu que eu cairia novamente, apesar de todas as advertências e auxílios anteriores. Ele viu que me tornaria medíocre e prepotente, e que então meu inimigo me atacaria com alguma nova tentação, à qual jamais pensei que pudesse ser exposto. Eu pensei que minha fraqueza estava toda numa região particular de minha alma, a qual era de meu conhecimento. Eu sequer cogitava não ser forte em outras partes. E assim Satanás se assentou em minha região desprotegida, e levou a melhor sobre mim por causa da minha autoconfiança e autossatisfação. Eu estava carente de humildade. Pensei que nenhum mal viria sobre mim, pensei que tinha sobrevivido ao perigo de pecar; pensei que era fácil chegar ao céu e não fiquei vigilante. Era o meu orgulho, e por isso caí pela terceira vez.
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Décima Estação:
Jesus é despojado de Suas vestes e escarnecido
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
Depois de um tempo, Ele chega ao local do sacrifício, e eles começam a prepará-Lo para a Cruz. Suas vestes são arrancadas de Seu corpo ensanguentado, e Ele, o Santo dos Santos, fica exposto ao olhar da multidão grosseira e escarnecedora.
Ó Tu que em Tua Paixão foste despojado de todas as Tuas vestes, e exposto a curiosidade e escárnio da turba, despoja-me de mim mesmo aqui e agora, para que no Último Dia eu não me envergonhe diante dos homens e dos Anjos. Tu suportaste a vergonha no Calvário para que eu pudesse ser poupado da vergonha no Juízo Final. Tu, que não tinhas nada de que Te envergonhar, sentiste vergonha porque assumiste a natureza humana. Quando eles tiraram de Ti as Tuas vestes, aqueles Teus membros inocentes foram adorados humilde e amorosamente pelos mais elevados Serafins. Eles Te rodeavam atônitos e sem palavras, maravilhados com Tua beleza, e tremiam diante da Tua auto-humilhação infinita. Mas eu, ó Senhor, qual será minha aparência se Tu me levares daqui para a outra vida, despojado daquele manto de graça que é Teu, para ser contemplado e visto em minha própria vida pessoal e natureza? Oh, quão hediondo sou por mim mesmo, ainda que em meu melhor estado! Mesmo quando estou purificado de meus pecados mortais, quanta doença e corrupção são vistas em meus pecados veniais! Como poderei estar apto para a sociedade dos Anjos, como para a Tua presença, se Tu queimares esta lepra imunda com o fogo do Purgatório?
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Décima Primeira Estação:
Jesus é pregado na Cruz
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
A Cruz é colocada no chão e Jesus se estende sobre ela, e então, balançando fortemente para frente e para trás, depois de muito esforço, ela é empurrada para dentro do buraco que estava pronto para recebê-la. Ou, como pensam outros, ela é colocada na posição vertical, e Jesus é levantado e preso ao madeiro. Enquanto os carrascos selvagens cravam os enormes pregos, Ele se oferece ao Pai Eterno como um resgate para o mundo. Os golpes são desferidos – o sangue jorra.
Sim, eles colocaram a Cruz no alto e uma escada contra ela, e, despojando-O de Suas vestes, O fizeram subir. Com Suas mãos segurando debilmente os lados e as madeiras transversais da escadaria, e Seus pés lentamente, incertos, com muito esforço e escorregões, subindo, os soldados tiveram que O sustentar em cada lado, do contrário Ele teria caído. Quando alcançou a base onde Seus pés sagrados deveriam apoiar-se, Ele voltou-se com doce modéstia e gentileza para a turba feroz, estendendo Seus braços, como se quisesse abraçá-los. Então Ele colocou amorosamente as costas de Suas mãos contra a trave transversal do madeiro, esperando os carrascos virem com seus pregos afiados e martelos pesados para cavar nas palmas de Suas mãos e O prender firmemente à Cruz. Nela Ele ficou pendurado, uma perplexidade para a multidão, um terror para os espíritos malignos, maravilha e temor inexplicáveis, mas também alegria e adoração dos Santos Anjos.
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Décima Segunda Estação:
Jesus morre na Cruz
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
Jesus ficou pendurado por três horas. Durante este tempo, Ele rezou por Seus assassinos, prometeu o Paraíso ao ladrão arrependido e entregou Sua Santíssima Mãe à custódia de São João. Com tudo já consumado, Ele curvou Sua cabeça e entregou Seu Espírito.
O pior já passou. O mais Santo está morto e partiu. O mais terno, o mais afetuoso, o mais santo dos filhos dos homens se foi. Jesus está morto, e com Sua morte meu pecado morrerá. Eu protesto de uma vez por todas, diante dos homens e dos Anjos, que o pecado não terá mais domínio sobre mim. Nesta Quaresma, faço-me de Deus para sempre. A salvação da minha alma será a minha preocupação primordial. Com a ajuda de Sua graça, criarei em mim um profundo ódio e uma grande tristeza por meus pecados passados. Vou me esforçar para detestar o pecado, tanto quanto antes o amei. Nas mãos de Deus me ponho, não pela metade, mas inteiramente e sem reservas. Prometo a Ti, ó Senhor, com a ajuda de Tua graça, manter-me fora do caminho da tentação, evitar todas as ocasiões de pecado, afastar-me imediatamente da voz do Maligno, ter constância nas orações. Quero morrer para o pecado, para que Tua morte na Cruz por mim não tenha sido em vão.
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Décima Terceira Estação:
Jesus é descido da cruz e colocado no seio de Maria
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
A multidão volta para casa. O Calvário ficaria solitário e silencioso, se São João e as santas mulheres não estivessem lá. Então chegam José de Arimateia e Nicodemos para descerem da Cruz o corpo de Jesus, e O colocar nos braços de Maria.
Ó Maria, finalmente tens a posse de teu Filho. Agora que Seus inimigos não podem fazer mais nada, eles O deixam para ti, como um despojo. Enquanto Seus amigos inesperados executam sua difícil tarefa, tu O olhas com pensamentos que não podem ser postos em palavras. Teu coração está trespassado por aquela espada de que Simeão falou. Ó Mãe dolorosa; em tua dor há uma alegria ainda maior. A alegria que estava por vir te deu forças para permanecer junto a Ele pendurado na Cruz. Com muito mais força agora, sem desfalecer, sem tremer, tu O recebes em teus braços e em teu colo maternal. Agora estás extremamente feliz por tê-Lo contigo, embora não tenha retornado a ti da mesma forma como saiu. Ele saiu de tua casa, ó Mãe de Deus, com a força e a beleza de Sua masculinidade, e Ele volta a ti deslocado, despedaçado, mutilado, morto. E apesar de tudo, ó Bem-aventurada Maria, tu és mais feliz neste momento atroz do que no dia da festa de bodas, pois nesta ocasião Ele estava prestes a deixar-te, mas a partir de agora, como Salvador Ressuscitado, Ele nunca mais será separado de ti.
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
Décima Quarta Estação:
Jesus é colocado no Sepulcro
V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
(Adoramos-te, Cristo, e te bendizemos)
R. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
(Porque pela tua santa Cruz remiste o mundo)
Para um curto período de três dias, por um dia e meio – Maria então teve que O deixar. Ele ainda não ressuscitou. Seus amigos e servos O tiram de seus braços e O colocam em um sepulcro honroso. Eles o fecham com segurança, até que chegue a hora de Sua ressurreição.
Repouse e durma em paz por um tempo na quietude do sepulcro, amado Senhor, e depois te levante para o Teu reinado eterno. Nós, como as mulheres fiéis, te velaremos, pois todo o nosso tesouro, toda a nossa vida está posta em Ti. E quando chegar a hora da nossa morte, concede-nos, doce Senhor, que também possamos dormir tranquilamente o sono dos justos. Que durmamos em paz durante o breve intervalo entre a nossa morte e a ressurreição de todos os homens. Guarda-nos do inimigo; livra-nos do castigo eterno. Que nossos amigos se lembrem de nós e orem por nós, ó amado Senhor. Que sejam rezadas Missas por nós, para que as penas do Purgatório, tão merecidas por nós, e, portanto, acolhidas com sinceridade, passem sem demora. Concede-nos lá períodos de alívio; envolve-nos com santas esperanças e contemplações sublimes, enquanto reunimos forças para ascender aos céus. E então, permita que nossos fiéis Anjos da Guarda nos ajudem a subir aquela escada gloriosa que Jacó viu em visão e que leva da terra ao céu. E quando chegarmos, que as portas da Eternidade sejam abertas diante nós com a música dos Anjos; que São Pedro nos receba, e que Nossa Senhora, a gloriosa Rainha dos Santos, nos abrace, e nos leve a Ti, ao Teu Pai Eterno e ao Teu Espírito Coigual, Três Pessoas, Um só Deus, para fazer parte com Eles do Reino pelos séculos dos séculos.
Pater, Ave, Gloria.
(Pai Nosso, Ave Maria, Glória)
V. Miserere nostri, Domine.
(Tende piedade de nós, ó Senhor)
R. Miserere nostri.
(Tende piedade de nós)
Fidélium ánimae per misericordiam Dei requiéscant in pace.
(E que as almas dos fiéis, pela misericórdia de Deus, descansem em paz)
R. Amém
OREMOS
Deus, que pelo Preciosíssimo Sangue de Vosso Filho Unigênito santificastes o Estandarte da Cruz, concedei-nos, nós Vos suplicamos, que nós, que nos regozijamos na glória desta mesma Santa Cruz, possamos em todos os tempos e lugares nos regozijar na Vossa proteção, por meio do mesmo Cristo, Nosso Senhor. Amem.
- Terminar com um Pai Nosso, uma Ave Maria e um Glória pela intenção do Soberano Pontífice.